segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Entrevista com o grupo Teatro Mágico




A influência do escritor Herman Hesse está presente tanto no titulo do
primeiro álbum da banda Entrada para raros quanto no próprio nome do grupo, ambas as referencias estão presentes no livro O Lobo na estepe. Mas o que motivou a escolha destes nomes? Como foi o batismo da banda?
Quando li sobre o Teatro Mágico – Só para Loucos, só para Raros, no livro percebi que era justamente aquilo que eu gostaria de montar: um espetáculo que juntasse tudo numa coisa só: malabaristas, atores, cantores, poetas, palhaços, bailarinas e tudo o mais que a minha imaginação pudesse criar. O Teatro Mágico é o lugar onde tudo é possível


Percebem-se elementos do rock progressivo em algumas de suas músicas. Esta é uma influência do grupo? Quais as influências musicais para vocês?
Nossas maiores influencias musicais são: Secos e molhados, Legião Urbana, Raul Seixas, Chico Sciene, Nação Zumbi, Zeca Baleiro... e internacionais: Simon & Garfunkel, Radiohead, Smiths, The Cure, Dave Matthews Band...



Vocês trabalham de forma independente, sem uma produtora por trás, além de disponibilizar todas as músicas gratuitamente nos meios digitais. Falem sobre seu interesse no movimento MPB (Música Para Baixar) e do por que vocês adotaram os princípios deste movimento.
Bom, vamos lá! Começando pelo fim. Sempre falo abertamente que "sem a internet não existiria o projeto “O Teatro Mágico” como ele é hoje!" (A música sim... ela já era antes de eu saber!). O uso da internet para divulgar o trabalho foi motivado pela minha decepção com as gravadoras. Quase tudo começou com uma banda que se chama Madalena 19. Fomos contratados e ao gravar nosso primeiro CD, a gravadora "Cascatas Records" (ainda se fosse "Cachoeiras"), nos impôs mudar os arranjos de todo nosso material, disse que a “levada” não estava agradando, e que teríamos que regravar a maioria das músicas em "formato" de forró universitário e ska (algo nada parecido com o que fazíamos). Então, como não aceitamos, ficamos presos a um contrato que nos impedia de usar todo o material já gravado! Após rescisão de contrato, o efeito de tristeza moral foi geral... o tal sonho da gravadora havia acabado! Foi quando meu "querido paaai!", Odácio Anitelli, resolveu jogar as músicas na internet. Ele disse: "Filho a rescisão contratual quem faz com o artista... é o público! É ele que tem que dizer se gosta da tua música ou não!" No início do projeto o “Orkut” foi nossa principal ferramenta de divulgação, lá construímos uma comunidade com mais de 80 mil integrantes, que logo depois sumiu sem sabermos o motivo!? (coisas do planeta Google). Na época jogávamos as músicas também no E-Mule e meu pai ficava monitorando os downloads, cada internauta que baixava uma música já era uma festa.
Nossa principal preocupação é manter a música livre, onde o público possa fazer downloads livremente, sem ser criminalizado por isso! E até usar para outros trabalhos comerciais se o lucro não for tão significativo. (ja vi gente fazendo cover e tocando TM por aí! não quero que sejam cobrados por isso!) Claro que se usarem a música para fins comerciais de outra proporção, então, queremos nossa parte. Queremos manter a música acessível, não queremos nossas opiniões gerenciadas por contratos. Queremos manter nossa relação já construída na honestidade e transparência com o público, e para isso, é preciso que tenhamos livre manifestação e livre expressão. Todas as gravadoras já nos procuraram, tivemos muitas dúvidas, se compreenderiam essas diretrizes e que estivessem todas garantidas.


As reflexões sobre o futuro do mercado musical tinham como principal vilão justamente os meios digitais, que possibilitavam ao público acessar livremente o conteúdo dos seus ídolos. Mas o que pareceu ser principio do fim, na verdade tem se revelado uma transformação, e os artistas parecem ter maior domínio sobre suas obras  e sobrevivem da realização de shows. Você acredita que esta saída, viver de apresentações ao invés da venda do produto musical, é um equivoco? Qual a opinião de vocês sobre o papel dos shows na carreira de um artista neste cenário de possibilidades virtuais?
Bem acredito que é de vital importância para qualquer banda que não tenha um contrato com uma grande gravadora. O TM por exemplo, o que mantém o projeto de pé é o público mesmo: comparecendo nas apresentações, divulgando no boca-a-boca, levando mais gente para conhecer. Não queremos ganhar com a venda do cd, pois a idéia é que nossa música seja acessível a todos. O projeto se auto-sustenta pelos shows, basicamente. Seguimos a linha da auto-produção e contamos muito com o nosso público. As pessoas que gostam da gente, entendem o que estamos fazendo e acabam ajudando como co-produtores das apresentações saindo em busca de recursos e espaços em suas cidades, levando material nosso nas prefeituras, instituições, colaborando como podem para que a gente consiga viajar pelo país. Hoje, a trupe atrai a atenção de grandes produtores e festivais tradicionais na maioria dos Estados, graças a esses milhares de braços que temos espalhados por aí.


 Como é o processo de criação das composições e das apresentações? O que vocês acham importante transmitir para o público ao criá-las?
O caminho de desconstrução... música não é algo pré-formatado. Creio que a sopa sonora venha da busca da experimentação... tentar traduzir o debate com rima, a tensão, a cor, a imagem do som... como se contássemos uma história e o cenário fosse se modificando, sofrendo mutações. Pra isso acontecer é preciso não ter medo de fazer suco com sal! Tem que fuçar na cozinha mesmo... colocar tudo o que ouvimos de molho com outros temperos! E assim, a gente arrisca na pluralidade do grupo. Todos são convidados a trazer suas idéias. filtra-se o excesso... mói de novo, rumina... esmaga o bagaço... raspa com a colher, mastiga e cospe... o que sobrar é o que ficou de bom... ainda assim você sempre acha que podia ser diferente na mix!


Já existe a possibilidade de um terceiro álbum do Teatro Mágico? Se existe, em que estágio ele está? E o que vocês já podem contar sobre sua nova criação?
Sim, o terceiro disco já está gravado, será lançado no início de setembro e vai se chamar “A Sociedade do Espetáculo”, numa referência ao livro de Guy Debord, mesclando crítica com brincadeira, discutindo questões da sociedade, como acreditar em questões como o ter para ser. Já foi lançado o primeiro clipe e single no Portal da MTV: http://mtv.uol.com.br/musica/veja-o-clipe-do-terceiro-cd-do-teatro-magico. E todas as novidades deste terceiro disco estão sendo postadas aos poucos em nosso site: http://oteatromagico.mus.br/.

Um comentário:

  1. Este show também seria interessante na Jornada, não somente na Jornadinha. Abraços.

    ResponderExcluir